terça-feira, 8 de abril de 2014

STAN LEE E O MUNDO DOS QUADRINHOS




Os quadrinhos, carinhosamente chamados de 'gibis' ocupam uma honrosa posição na categoria de arte. A nona arte. E não é pra menos. Essa forma de expressão artística permeou o século XX e,  graças às suas adaptações cinematográficas, foi muito bem sucedida no no novo milênio.



Mas falar de quadrinhos e não citar Stan Lee, seria imperdoável. Stan salvou da falência a editora que se tornaria a Marvel Comics, reinventou o gênero, introduziu centenas de personagens que se tornariam ícones e mudou a forma do mundo ver os gibis.



A empresa foi fundada nos anos 1930 por Martin Goodman, com o nome de Timely Comics e tinha no faroeste o gênero principal. Stanley Lieber, ou Stan Lee, já trabalhava por lá e viu de perto os altos e baixos da editora, em especial no pós-guerra. 



A primeira edição, em 1939, já flertava com a vertente dos heróis, como o Tocha Humana original e Namor. Além de Jack Kirby, que trabalhou com a primeira versão de Capitão América, em março de 1941.



As coisas estavam de mal a pior nos anos 50. Mesmo com a diversificação de gêneros, como terror, comédia e quadrinhos de guerra. Nem revivendo as histórias de Namor, Tocha e Capitão as coisas pareceram funcionar. Nesse momento a editora operava com o nome de ATLAS. Stan já atuava, com um time de escritores para manter a empresa de pé.



Mas foi só quando a concorrente, DC Comics veio com Liga da Justiça é que a Casa das Ideias se mexesse. 



Stan estava fazendo o que o editor queria. E não gostava. Não se sentia desafiado. Quando optou pelo tudo ou nada –"se gostarem do que vou publicar, ótimo, senão, que se dane" – estava escrevendo estórias com muita ação e pouco diálogo. Achou que era hora de inverter. Fazer algo mais elaborado e com menos ação, levando o leitor a refletir sobre o que estava lendo.



Foi aí que Lee revolucionou o mundo com o Quarteto Fantástico, primeiro grupo de heróis que dispensava máscara, tinham identidades e endereço de conhecimento público, além de introduzir ciência nas estórias. 



O tema era um favorito de Stan e permeou boa parte de suas obras. Tudo isso era uma novidade na época. É desse período, também, Os Vingadores, uma fusão entre o velho (Capitão América) e o novo (Homem de Ferro e cia); Lee ainda contava com os gênios dos desenhos Jack Kirby e Steve Dikto. 



Mas Stan Lee era a cabeça por trás das criações e nos brindou com o que viria a se tornar o maior nome da empresa: o Homem Aranha. 



Lee queria a antítese do herói tradicional. Peter Parker, o alter ego do Cabeça de Teia, era um cdf, adolescente, não era musculoso e, geralmente, resolvia os problemas com seus conhecimentos de ciências. O personagem caiu no gosto popular e ganhou título próprio. 



O Aranha, assim como o personagem Batman da DC, foi forjado na tragédia; mas ele, além de tudo isso vivenciava problemas familiares, falta de dinheiro, bullying na escola e incerteza profissional. 




Além de lutar desesperadamente para que ninguém soubesse de sua identidade secreta. Essa humanização do personagem foi o que o aproximou do grande público. Vivia entre a tênue linha da dupla personalidade. 



Mas havia mais. Demolidor, Hulk, Dr. Estranho e a obra que se equipararia ao Aranha: os X-MEN. Todos no melhor estilo “easy rider”.



 Com o grupo de mutantes, Lee conseguia falar sobre racismo, nas entrelinhas. As histórias mostravam um grupo de heróis renegados, que eram perseguidos pela população por sua diferença genética. Alusão ao preconceito racial vigente nos EUA dos anos 60, principalmente.



Os personagens tinham um lado humano. A narrativa das histórias davam tons mais realistas (excetuando-se os poderes, é claro); essa humanização foi marca registrada nos primórdios da Marvel, mas que permaneceu nos anos vindouros.



 Lee chegou a falara abertamente sobre o problema das drogas em uma estória do Aranha, em que Harry Osborn, filho de seu maior algoz, lida com o problema grave. Stan aborda a questão sem maniqueísmo e de maneira objetiva. Sofreu censura e quase viu seu brilhante texto naufragar. Felizmente isso não aconteceu.



Demolidor era cego; Homem de Ferro se tornou alcoólatra, Hulk era um monstro e em sua forma humana, renegado, um fugitivo que era procurado por suspeita de assassinato. Isso cativava os leitores e fazia com que a Distinta Concorrência se mexesse. Passou a tratar seus nomes de peso com a mesma visão adulta, para não perder o bonde.



Após Amazing Spider Man nº 100, edição clássica que mostrava a brutal morte da namorada de Peter Parker, Gwen Stacy, as coisas nunca mais foram as mesmas na história dos quadrinhos. Tudo mudou, o tom adquiriu ares de maturidade. As tragédias passaram a acompanhar mais de perto os heróis. Esse patamar foi acompanhado pela DC, também. 



Essa revolução fez de Stan, o nome forte da editora. Mas nem por isso deixou de escrever. Ele passou a tocha para a nova geração. Só que a transição não foi propositiva para a Marvel. As vendas caíram. A qualidade das histórias decaíram. Mas vinha uma nova geração que poderia dar outro rumo à editora.



John Byrne, Chris Claremont, Jim Shooter, George Pérez, Jim Starlin, Frank Miller eram alguns dos nomes. Começaram a amadurecer os personagens e melhorando a qualidade dos quadrinhos. A segunda geração dos X-Men, trazia a discussão da globalização, uma expressão ainda pouco usual no fim dos anos 70. Cada integrante vinha de um país diferente. 



Byrne deu uma aula de ficção científica com a saga do Quarteto Fantástico, que durou mais de 4 anos, sendo um sucesso de crítica e público. 



Miller passou a flertar com Homem Aranha e Demolidor, e deu ao Homem Sem Medo uma de suas melhores sagas, ao lado de Bill Sienkiewicz, o mesmo que idealizou o personagem ROM e Elektra.



Os Vingadores, a exemplo da trupe liderada por Reed Richards, começaram suas jornadas cósmicas e sua renovação dos quadros.



Novos personagens vinham, nenhum jamais ia, em definitivo.




OS CARAS MAUS

Uma das grandes sacadas da Casa das Ideias foram os vilões. Cada herói tinha vários inimigos, mas também sua nêmesis particular. 



O Aranha tinha o Duende Verde, que assassinou sua namorada do colégio. Demolidor tinha o Rei do Crime, que surgiu nas revistas dos anos 60 se digladiando com o Cabeça de Teia. Tony Stark encarava seu maior algoz, o Mandarim. O Quarteto tinha o Dr. Destino como seu maior rival. Hulk sempre fora perseguido ferozmente pelo irascível General Ross. Os X-MEN encaravam Magneto, Thor combatia seu irmão Loki. Capitão América e seu eterno Caveira Vermelha. 



Seus inimigos os faziam sempre crescer, evoluir, buscar outras alternativas para suplantar os velhos problemas. Os antagonismos aumentavam e também a crueza das retaliações. Estes embates fascinavam os fãs. Os gibis eram devorados como se fossem novelas –talvez até fossem. Mas um tipo diferenciado.



Grupos eram criados ou eram desfeitos. Os Defensores, os Campeões, Tropa Alfa, as constantes mudanças nos Vingadores. Tudo isso visando fidelizar ainda mais o público, ávido por novidades. 




Isso foi inflando o Universo Marvel. Muitos personagens eram criados, usados por um tempo e, de acordo com o desempenho, convenientemente, aposentados. Mortos? Talvez. Mas no mundo dos quadrinhos a morte nunca veio pra ficar. Com exceção do Capitão Mar-Vell.



As GUERRAS SECRETAS, sob um pretexto capenga, reuniu os maiores nomes da Marvel em um confronto de proporções gigantescas. Mas também não era algo inteiramente novo. Nos anos 60, durante o clássico episódio em que o Sr. Fantástico e a Mulher Invisível se casam, há uma briga generalizada entre heróis e vilões.



Mas se Stan Lee pôde revitalizar a Marvel, então nem tudo estava perdido.





ENQUANTO ISSO, NA DISTINTA CONCORRÊNCIA...

Com o apogeu da Marvel, a Detective Comics correu atrás do prejuízo e deu uma maior dinâmica aos seus personagens. Envelhecidos precocemente (Superman), outros com pouca utilidade fora de seu ambiente natural (Aquaman), e alguns deslocados da sociedade contemporânea –como a Mulher Maravilha.



Se na chamada ERA DE OURO a DC se destacava com Batman e cia, na Era de PRATA o sucesso foi parcial. Levar os personagens, de maneira pioneira à TV fez as vendas aumentarem, mas a competição com Stan Lee fazia estragos em alguns títulos da casa.



Mas a chegada de feras que abandonaram a Marvel (o ego de Stan foi responsável por isso) ajudou a DC a melhorar as vendagens. Kirby e Ditko foram os grandes trunfos, assim como os novos talentos Neal Adams e Dennis O'Neal, anos mais tarde.



Na Era de BRONZE (70-80) o embate com a Casa das Ideias resultou em algumas vítimas no front. Vários títulos foram cancelados, de ambos os lados.



Mas com a introdução de minisséries e a contratação de nomes talentosos e iniciantes, como Marv Wolfman, Pérez e Alan Moore as coisas começaram a inverter no final da década de 70.



Nos anos 80 o embate estava parelho. Mas foi a DC que deu uma guinada para o último estágio dos quadrinhos: o processo de amadurecimento completo de seus personagens. E foi com outro autor oriundo da Marvel, Frank Miller, que o cenário mudou. 




CONTINUA...


STAN LEE E O MUNDO DOS QUADRINHOS PARTE 2






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