sábado, 27 de dezembro de 2014

A ETERNA DIVA - PARTE 1





Durante muitos anos - e até hoje - grafaram (erroneamente) o nome Norma Jean como a verdadeira identidade de Marilyn Monroe. Na verdade, ela se chamava Norma Jeane Mortenson e não Norma Jean. Desde criança, quiseram fazê-la crer que se chamava Norma Jean em homenagem a diva Jean Harlow - a mãe de todas as loiras, de quem Norma foi fã por toda vida. Ela era seu grande ídolo, se inspirava em Harlow e baseava sua própria vida na triste história de Harlow, quase obsessivamente.






Norma nunca conheceu seu pai, ou como especulam, talvez ela tenha sido rejeitada por ele. Ela não foi um bebê bem-vindo, sua mãe, Gladys Baker, não tinha condições de cuidar e sustentar um bebê. Seus avós paternos morreram enlouquecidos e a loucura não demorou a acometer a mãe de Norma Jeane. Desde tenra idade ela viveu abrigada na casa de Ida e Albert Bolender, um casal que cuidava de várias crianças que por alguma razão não tinham um lar; Norma era uma dessas. Ela viveu na casa dos Bolender até os 7 anos, quando Gladys a levou embora à força para viver junto dela; o que podia ter sido um belo recomeço para mãe e filha, foi infelizmente interrompido quando a sanidade mental de Gladys começou a dar sinais de fraqueza. Em 1933, após vários episódios traumáticos ela acabou sendo internada em uma clínica psiquiátrica com o diagnóstico de esquizofrenia. Gladys nunca mais voltou a ser a mesma d'antes.
Até ali, a menina Norma Jeane já vivera experiências dolorosas demais para uma criança. Ela não sabia quem era o seu pai, e já sentia a rejeição da mãe. Mesmo enquanto morava na casa dos Bolender, Ida não permitia que Norma a chamasse de mãe, já que sua verdadeira mãe estava viva - mesmo que parecesse o contrário. Gladys vivia distanciada da filha, não a procurava e a visitava poucas vezes. Os abandonos, rejeições, mudanças e sofrimentos que eram implicados a Norma Jeane, acabaram criando cicatrizes profundas na alma da menina, feridas que nunca fecharam e a marcaram para sempre.






Ela nunca teve algo que se possa chamar de 'lar tradicional', nunca teve uma casa com pais e que pertencesse a ela, e que ela pertencesse aquele lar. Do fim da infância ao começo da idade adulta, ela viveu em diversas casas de parentes distantes e famílias de criação, incluindo uma passagem pelo orfanato Los Angeles Orphans Home, um dos maiores traumas de sua vida. Sua guardiã Grace Mckee, que era melhor amiga de sua mãe, a deixara no orfanato em 1935, porque se casara e iria construir uma família em que não havia espaço para Norma Jeane (muitas famílias se interessaram em adotá-la, incluindo o casal Bolender, mas Grace McKee sempre rejeitava as propostas. Imaginem o quão triste é a vida de uma criança num orfanato, a sensação de abandono e solidão. Ainda mais para uma menina que tinha uma mãe. Anos depois, já como Marilyn Monroe, ela declarou que não entendia o que fazia no orfanato, porque não era órfã, porque tinha mãe.
Quando alguns anos depois se eternizou gravando suas mãos e pés no cimento da calçada da fama do Grauman's Chinese Theater, em Los Angeles, nada mais poderia lhe parecer impossível. Ela havia sonhado com aquilo durante toda sua infância. Sempre lhe disseram que seria uma estrela. Quando criança, Grace McKee a levava aos cinemas de Hollywood Boulevard para ver as estreias das grandes estrelas, e lhe dizia que um dia ela estaria ali, seria a sua vez de estrear. A menininha Norma Jeane tentava encaixar seus pequenos pezinhos nas pegadas das grandes divas. Um dia seria a sua vez de gravar suas pegadas. E quando ela deixou suas marcas em 1953, ao lado da morena Jane Russell, teve o seu sonho realizado, felizmente desta vez não tinham mentido para ela.






No fim dos anos 40, Hollywood era abarrotada de espertalhões metidos a agentes e produtores, chamados de woolfs (lobos). Mau-caráteres que se aproveitavam e abusavam das jovens starlets pretendentes a estrelas, também abundantes naquela época. O maior exemplo disso é o macabro episódio de Dália Negra, ocorrido em 1948. Norma Jeane sabia bem disso. Vendia-se de tudo aos lobos, aos fotógrafos e aos produtores. O corpo, a imagem, por uma figuração ou por um papel qualquer numa próxima produção dos estúdios. O sexo era moeda de troca e o mercado era sórdido, cruel, nada glamouroso. O ambiente era triste, frio e solitário. Jogava-se com o que se tinha a oferecer, e comprava-se de tudo pelo sucesso.
Nesta época, Norma Jeane ganhava pouco e tinha de viver como podia. Ela alternava os dias entre aulas de dança, canto e teatro, mas ainda estava longe de se tornar uma estrela, só fazia figurações ou 'pontas' em pequenas produções sem grande destaque. O salário pago pela 20th Century Fox era baixo, e volta a meia ela tinha que voltar a modelar para complementar a renda. A vida era difícil, cara e muito solitária. A corrida ao estrelato era diária, dura e cansativa, conseguir um papel de destaque era tarefa difícil. Norma se mudava constantemente de apartamento, conforme o valor do aluguel subia ou aumentava. Em 1949 sua situação era tão tensa e instável que ela aceitou posar nua para o fotógrafo Tom Kelley só para não perder o carro comprado a crédito. O preço: 50 dólares. As fotos eram para um calendário, e ela já temendo que viessem destruir sua carreira, exigiu sigilo e preferiu assinar como Mona Monroe. Em 1953, quando já atingira a fama e o sucesso, as fotos voltaram à tona, desta vez como sendo da grande estrela Marilyn Monroe.






Entre 1949 e 1952, ela alcançou o estrelato se destacando em diversas produções, tendo participado dos clássicos A Malvada (All About Eve) e O Segredo das Jóias (The Asfalt Jungle) - ambos em 1950. Em 1952 ela teve sua primeira - e uma das poucas - chances de mostrar seu talento dramático, como protagonista do longa Almas Desesperadas (Don't Bother to Knock), no qual interpretou uma babá psicótica. Qualquer semelhança com fatos reais seria mera coincidência?
Até ali, Marilyn já tinha alcançado o sucesso, e era a mais promissora atriz de Hollywood. Seu bom desempenho no drama Almas Desesperadas e a popularidade adquirida levaram a 20th Century Fox a investir pesado nela e nos três filmes de 1953 que a consolidaram como o maior ícone do cinema dos anos 50. Diferente do seus personagens habituais, no melodramático film noir Torrentes de Paixão (Niagara) - o primeiro dos três clássicos de 1953, ela interpretou Rose Loomis, uma femme fatale sedutora e irresistível. Não é uma de suas melhores atuações, mas ela está no auge da beleza e brilhando num papel altamente sexy, transpirando sensualidade.






Marilyn sempre se esforçou para ser uma boa atriz, esse era o seu maior desejo. Ela estudou arduamente para ser uma boa atriz. Queria ser reconhecida, respeitada e aplaudida. "Meu trabalho é a única fundação que eu tenho para me sustentar. Eu me sinto como uma superestrutura sem fundações - mas eu estou trabalhando nelas". Marilyn é um verdadeiro de exemplo de atriz, de como uma atriz deve ser. Ela entendia a verdadeira essência da profissão e do que é o trabalho de um ator. "Uma atriz não é uma máquina, mas eles tratam você como uma máquina. Uma máquina de dinheiro". E dedicou-se plenamente a esse intento. Teve aulas durante anos com Natasha Lytess, uma das melhores coaches de Hollywood, que exercia uma estranha e possessiva dominação sobre ela, e a acompanhou em inúmeros filmes, incluindo seus maiores êxitos como Os Homens Preferem as Louras (Gentlemen Prefer Blondes) e Como Agarrar um Milionário (How to Marry a Millionaire). Sua atuação um tanto afetada, cheia de maneirismos e expressões faciais baseadas nas atuações do cinema mudo fizeram dela uma grande comediante. Billy Wilder a definiu como um gênio na comédia - e de fato ela era, mas é difícil até ser uma boa comediante quando se interpreta sempre a mesma loira burra em todos os filmes.




Em 1955, Marilyn ingressou no Actor's Studio de Lee Strasberg. A famosa escola de atuação nova-iorquina onde também estudou Marlon Brando. Pouco tempo antes, ela tinha tomado aulas de atuação com Constance Collier, veterano do cinema mudo, então com 77 anos e que viria a morrer pouco tempo depois. No Actor's Studio, Marilyn estava obstinada em mudar os rumos de sua carreira e se tornar uma atriz dramática devidamente reconhecida. Para isso, tornou-se adepta do "método de imersão" de Constantin Stanislavski, de quem Lee Strasberg era o maior discípulo. O controverso método consiste em extrair dos próprios atores as emoções e pensamentos de seus personagens, visando criar uma interpretação mais realista o possível, isso inclui buscar os sentimentos mais tristes e profundos, utilizando da memória sensorial e afetiva. Marilyn era muito estudiosa e muita sincera com os estudos, gostava de se sentar na última fileira da classe para não chamar a atenção dos outros para si mesma. Ela passou todo o ano de 1955 em Nova Iorque tendo aulas no Actor's Studio, e quando Lee Strasberg achou que ela já estava preparada para dar uma performance na frente dos outros, Monroe escolheu a cena de abertura da peça Anna Christie de Eugene O'Neill, ganhadora do prêmio Pulitzer de 1922. A peça foi levada ao cinema em 1930 no primeiro filme falado de Greta Garbo no papel título (Marilyn era uma grande fã de Garbo), e rendou-lhe sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Atriz. Os outros alunos foram desencorajados a aplaudir, mas a performance de Marilyn foi tão natural que resultou em aplausos espontâneos.



Fim da parte 1




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